A 51ª edição do Dia Mundial do Meio Ambiente foi um sucesso recorde, com um número sem precedentes de 3.854 eventos oficiais e dezenas de milhões de engajamentos online chamando a atenção para como a humanidade pode enfrentar três perigos frequentemente negligenciados: degradação da terra, desertificação e seca.
“Da Times Square à Trafalgar Square, passando por pontos de ônibus e aeroportos em Pequim, Beirute e Osaka, e por outdoors em Botsuana, Essuatíni, Quênia, África do Sul, Tanzânia, Zâmbia e Zimbábue – o Dia Mundial do Meio Ambiente está claramente na mente de todos”, disse Inger Andersen, diretora-executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Muitas das discussões do dia 5 de junho se concentraram em como restaurar paisagens – um processo que inclui tudo, desde o plantio de árvores até a redução da poluição – pode ajudar a acabar com a degradação da terra, que afeta mais de 3 bilhões de pessoas.
Confira aqui uma análise mais detalhada dos seis principais destaques do Dia Mundial do Meio Ambiente.
1. A campanha ressaltou o grau de degradação do solo, desertificação e seca, ao mesmo tempo em que demonstrou o potencial de restauração.
A terra fornece alimento, água e inúmeras outras coisas à humanidade, tornando a vida possível. No entanto, mais de um quinto da área terrestre do planeta está degradado. Isso afeta cerca de 3,2 bilhões de pessoas – 40% da população global – e pesa desproporcionalmente sobre as mulheres e os mais pobres.
O Dia Mundial do Meio Ambiente ajudou a mostrar por que a perda de ecossistemas terrestres é uma crise planetária. Como disse Andersen: “A degradação da terra, a desertificação e a seca não são apenas problemas de nações áridas. São problemas globais.”
Mas, acima de tudo, o dia foi sobre soluções. Em tudo, desde reuniões de alto escalão até excursões escolares, especialistas, educadores e pessoas destacaram como atos de restauração, muitas vezes simples, podem transformar paisagens degradadas pelas mudanças climáticas, perda de biodiversidade, poluição e outros fatores de degradação.
Essa foi uma mensagem que repercutiu globalmente. As publicações do Dia Mundial do Meio Ambiente nas mídias sociais alcançaram mais de 200 milhões de pessoas e a data foi a hashtag mais comentada no X, antigo Twitter. Cerca de 27 milhões de pessoas assistiram a vídeos relacionados.
2. A data lembrou o mundo das crescentes ameaças climáticas
As mudanças climáticas e a degradação da terra estão presas em um perigoso ciclo de retroalimentação, com um alimentando o outro. É por isso que a crise climática esteve no centro das atenções no dia 5 de junho.
Em um discurso especial para marcar o Dia Mundial do Meio Ambiente, o secretário-geral da ONU, António Guterres, instou os líderes mundiais a agir imediatamente para enfrentar os crescentes riscos climáticos.
“ Precisamos de uma rampa para deixar o caminho em direção ao inferno climático” alertou ele, em um discurso poderoso no Museu Americano de História Natural em Nova York, que ele chamou de um momento de verdade.
“A necessidade de ação climática é sem precedentes, mas também é a oportunidade, não apenas de cumprir os compromissos climáticos, mas para a prosperidade econômica e o desenvolvimento sustentável”, acrescentou.
O chefe da ONU enfatizou a necessidade de limitar o aumento da temperatura global a 1,5℃, que, segundo um relatório da Organização Meteorológica Mundial divulgado no dia, provavelmente será ultrapassado dentro cinco anos.
A diretora-executiva adjunta do PNUMA, Elizabeth Maruma Mrema, usou seu discurso na Universidade de Oxford para pedir esforços internacionais conjuntos para enfrentar a tripla crise planetária de mudanças climáticas, da perda de natureza e de biodiversidade, e de poluição e resíduos.
“O multilateralismo é a única maneira de resolver esses desafios interconectados e integrados”, disse ela aos estudantes.
3. A campanha levou a anúncios de políticas públicas vitais e trabalho direto para revitalizar paisagens
Nas Maldivas, o presidente Mohamed Muizzu anunciou uma iniciativa para plantar 5 milhões de árvores em cinco anos. Omã se comprometeu a plantar mais de 16 milhões de sementes silvestres. E Bangladesh anunciou uma meta ambiciosa de expandir a cobertura florestal para um quarto de sua área terrestre até 2030.
Enquanto isso, o Cazaquistão celebrou o retorno dos Cavalos de Przewalski após uma ausência de 200 anos. Os animais, considerados os últimos cavalos geneticamente selvagens do mundo, foram trazidos de dois zoológicos europeus para serem soltos na natureza como parte de um esforço para restaurar as pradarias do Cazaquistão.
4. A data tornou-se um momento cultural, com artistas, músicos e atores expressando apoio à ação ambiental
Cidades ao redor do mundo usaram a arte para chamar a atenção para a importância da conexão da humanidade com a natureza.
Em várias cidades do Reino da Arábia Saudita, que sediou o Dia Mundial do Meio Ambiente, edifícios brilharam com luzes verdes e shows de drones iluminaram os céus. Bruxelas, na Bélgica, iluminou sua prefeitura com luz verde, e a Suíça também coloriu de verde seu icônico Jet d'Eau do Lago Genebra. Seattle revelou uma das maiores coleções de arte urbana da América do Norte, que incluiu um mural de 200 metros de largura de uma baleia jubarte, criado pela artista mexicana Adry del Rocio.
“O mar é muito importante, e na maioria das vezes nos esquecemos dele,” disse del Rocio. “Se uma criatura morre, todo o ecossistema é prejudicado.”
Enquanto Seattle comemorava seu status como uma cidade-modelo da Geração Restauração, seis novas cidades, que se estendem da África à América Latina, se juntaram ao projeto Cidades da Geração Restauração do PNUMA, que utiliza soluções baseadas na natureza para ampliar a restauração dos ecossistemas.
Em Nairóbi, no Quênia, a banda Future Sounds e Kimmy Wangari apresentaram uma música escrita especialmente para o dia, chamada That's What Earth Said. Os artistas Lost Witness e BRÏAH também lançaram uma nova música, Last Call, para aumentar a conscientização sobre a emergência climática e incentivar ações para proteger a Terra.
Enquanto isso, uma legião de atores, incluindo Don Cheadle, Dia Mirza, Jason Momoa e Alex Rendell, expressou seu apoio à restauração dos ecossistemas.
Até mesmo a amada personagem animada britânica Peppa Pig entrou na onda, incentivando crianças a ajudar a manter o meio ambiente limpo.
5. A campanha reforçou a importância da restauração para o movimento ambiental global
Na Conferência das Nações Unidas de 1992 no Rio de Janeiro, Brasil, os países adotaram acordos históricos para proteger a biodiversidade, combater as mudanças climáticas e desacelerar a desertificação. Cada uma das três Convenções do Rio realizará uma Conferência das Partes, ou COP, no final deste ano para avançar ainda mais as ambições das convenções. Especialistas disseram que, enquanto os líderes se preparam para essas negociações, seria vantajoso lembrar o potencial da restauração para remediar os problemas ambientais do planeta.
“A restauração de terras pode ser o fio dourado que une ação e ambição nesses três importantes encontros”, disse Andersen. “As nações podem tecer esse fio ligando seus compromissos climáticos e suas estratégias e planos nacionais de ação de biodiversidade com os compromissos de neutralidade da degradação da terra.”.
6. Apresentou à próxima geração o poder da restauração
Jovens de todos os cantos do planeta participaram de atividades promovendo a proteção e conservação de terras. Na Alemanha, os jovens se juntaram ao presidente do país, Frank-Walter Steinmeier, para falar sobre a Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas. Na sede do PNUMA em Nairóbi, crianças no ensino fundamental aprenderam a restaurar solo danificado, enquanto estudantes em Viena, Áustria, participaram de uma conferência simulada sobre restauração de terras.
Em Barranquilla, Colômbia, jovens plantaram árvores, e em Riade, Arábia Saudita, Andersen, do PNUMA, falou com os jovens sobre a proteção do planeta para as gerações futuras.
“Nossa terra é nosso futuro,” disse ela. “Devemos protegê-la e restaurá-la para que possamos desacelerar e nos adaptar às mudanças climáticas, devolver à natureza sua saúde plena e aumentar os meios de subsistência e a segurança alimentar de bilhões de pessoas ao redor do mundo.”
O Dia Mundial do Meio Ambiente, em 5 de junho, é o maior dia internacional dedicado ao meio ambiente. Liderado pelo PNUMA e realizado anualmente desde 1973, o evento se tornou a maior plataforma global para a conscientização ambiental, com milhões de pessoas de todo o mundo se engajando para proteger o planeta. Neste ano, o Dia Mundial do Meio Ambiente foca na restauração das terras, desertificação e resiliência à seca.
A Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas 2021-2030, liderada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura e parceiros, abrange ecossistemas terrestres, costeiros e marinhos. Uma chamada à ação global, reunirá apoio político, pesquisa científica e força financeira para ampliar massivamente a restauração.