O Dia Mundial do Meio Ambiente deste ano – a quinquagésima edição da celebração anual do planeta – focará na crise da poluição plástica. O motivo? A humanidade produz mais de 430 milhões de toneladas de plástico anualmente, dois terços dos quais são produtos de curta duração que rapidamente se tornam resíduos, enchendo o oceano e, muitas vezes, entrando na cadeia alimentar humana.
"Muitas pessoas não estão cientes de que um material que está intrínseco em nossa vida diária pode ter impactos significativos não apenas na vida selvagem, mas no clima e na saúde humana", diz Llorenç Milà i Canals, chefe da Iniciativa de Ciclo de Vida do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Leia nossa explicação para saber mais sobre a crise da poluição plástica:
Por que a poluição plástica é um problema?
Acessível, durável e flexível, o plástico permeia a vida moderna, aparecendo em tudo, desde embalagens até roupas e produtos de beleza. Mas é jogado fora em uma escala massiva: todos os anos, mais de 280 milhões de toneladas de produtos plásticos de curta duração se tornam resíduos.
No geral, 46% dos resíduos plásticos são depositados em aterros, enquanto 22% são mal geridos e se transformam em lixo. Ao contrário de outros materiais, o plástico não se biodegrada. Essa poluição sufoca a fauna marinha, danifica o solo e envenena as águas subterrâneas, além de poder causar sérios impactos na saúde.
A poluição é o único problema do plástico?
Não, ela também contribui para a crise climática. A produção de plástico é um dos processos de fabricação mais intensivos em energia no mundo. O material é feito a partir de combustíveis fósseis, como o petróleo bruto, que são transformados via calor e outros aditivos em um polímero. Em 2019, os plásticos geraram 1,8 bilhão de toneladas métricas de emissões de gases de efeito estufa – 3,4% do total global.
De onde vem todo esse plástico?
O setor de embalagens é o maior gerador de resíduos plásticos descartáveis do mundo. Aproximadamente 36% de todos os plásticos produzidos são usados em embalagens. Isso inclui recipientes de plástico descartáveis para alimentos e bebidas, 85% dos quais acabam em aterros sanitários ou como resíduos mal gerenciados.
A agricultura é outra área em que o plástico é onipresente: ele é usado em tudo, desde revestimentos de sementes até filmes de cobertura vegetal. A indústria pesqueira é outra fonte significativa. Pesquisas recentes sugerem que mais de 100 milhões de quilos de plástico entram nos oceanos apenas dos equipamentos de pesca industrial. A indústria da moda é outro grande usuário de plástico. Cerca de 60% do material transformado em roupas é plástico, incluindo poliéster, acrílico e nylon.
Já ouvi as pessoas falarem de microplásticos. O que são eles?
Eles são pequenos fragmentos de plástico medindo até 5mm de comprimento. Eles vêm de tudo, de pneus a produtos de beleza, os quais contêm microesferas, minúsculas partículas usadas como esfoliantes. Outra fonte importante são os tecidos sintéticos. Todas as vezes em que as roupas são lavadas, as peças soltam minúsculas fibras de plástico chamadas microfibras – uma forma de microplásticos. Só a lavanderia faz com que cerca de 500 mil toneladas de microfibras plásticas sejam lançadas no oceano todos os anos – o equivalente a quase 3 bilhões de camisas de poliéster.
O que está sendo feito em relação à poluição plástica?
Em 2022, os Estados-Membros da ONU concordaram com uma resolução para acabar com a poluição plástica. Um Comitê de Negociação Intergovernamental está desenvolvendo um instrumento juridicamente vinculativo sobre a poluição plástica, com o intuito de finalizá-lo até o final de 2024. Criticamente, as conversas se concentraram em medidas que consideram todo o ciclo de vida dos plásticos, desde a extração e design do produto até a produção e o gerenciamento de resíduos, permitindo oportunidades para projetar resíduos antes que eles sejam criados como parte de uma economia circular próspera.
O que mais precisa ser feito?
Ainda que esse progresso seja uma boa notícia, os compromissos atuais dos governos e da indústria não são suficientes. Para enfrentar eficazmente a crise da poluição plástica, é necessária uma mudança sistêmica. Isso significa sair da atual economia linear do plástico, que foca na produção, no uso e no descarte do material, para uma economia plástica circular, em que o plástico produzido é mantido na economia em seu valor mais alto pelo maior tempo possível.
Como os países podem tornar isso uma realidade?
Os países precisam estimular a inovação e fornecer incentivos às empresas que eliminam os plásticos desnecessários. Os impostos são necessários para deter a produção ou a utilização de produtos de plástico de uso único, enquanto os benefícios fiscais, os subsídios e outros incentivos fiscais têm de ser introduzidos para incentivar alternativas, como os produtos reutilizáveis. As infraestruturas de gestão de resíduos também devem ser melhoradas. Os governos também podem se envolver no processo do Comitê de Negociação Intergovernamental para forjar um instrumento juridicamente vinculativo que combata a poluição por plásticos, inclusive no ambiente marinho.
O que uma pessoa comum pode fazer em relação à poluição plástica?
Ainda que a crise da poluição plástica precise de uma reforma sistêmica, as escolhas individuais fazem a diferença. Como mudar o comportamento para evitar produtos de plástico de uso único sempre que possível. Se os produtos de plástico forem inevitáveis, eles devem ser reutilizados ou reaproveitados até que não possam mais ser usados – momento em que eles devem ser reciclados ou descartados corretamente. Leve sacolas ao supermercado e, se possível, se esforce para comprar opções de alimentos de origem local e sazonais que exijam menos embalagens plásticas e transporte.
Devo exigir dos governos e das empresas que lidem com a poluição plástica?
Sim. Uma das ações mais importantes que os indivíduos podem tomar é garantir que sua voz seja ouvida, conversando com seus representantes locais sobre a importância do assunto e apoiando empresas que estão se esforçando para reduzir produtos plásticos de uso único em suas cadeias de suprimentos. Os indivíduos também podem mostrar seu apoio a elas nas redes sociais. Se as pessoas virem uma empresa usando plástico desnecessário (como plásticos descartáveis cobrindo frutas em um supermercado), elas podem entrar em contato com elas e pedir que façam algo melhor.
Para mais informações sobre como você pode ajudar a combater a crise da poluição plástica, baixe o Guia Prático de Combate à Poluição Plástica.
Sobre o Dia Mundial do Meio Ambiente
O Dia Mundial do Meio Ambiente, em 5 de junho, é o maior dia internacional para o meio ambiente. Liderado pelo PNUMA e realizado anualmente desde 1973, o evento cresceu e se tornou a maior plataforma global de alcance ambiental, com milhões de pessoas de todo o mundo engajadas para proteger o planeta. Este ano, o Dia Mundial do Meio Ambiente se concentrará em soluções para a crise da poluição plástica.