09 Apr 2024 Notícia Economia verde

Regulações e desmatamento zero: Trade Hub Brasil apresenta resultados para representantes do governo e especialistas

O Trade Hub Brasil, liderado pelo Centro de Monitoramento da Conservação Mundial do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP-WCMC), organizou um evento final para apresentar suas descobertas a partir de pesquisas e ferramentas desenvolvidas no país. O evento foi realizado no AYA Earth Hub, em São Paulo, em 29 de fevereiro, e focou em compreender as cadeias de suprimentos de soja e gado, além das políticas nacionais e globais que regem o desmatamento em grandes biomas, como a Amazônia e o Cerrado. Para explorar esses temas, formuladores de políticas, jornalistas e especialistas participaram de uma série de painéis e mesas redondas com especialistas em comércio e agricultura.

O primeiro painel explorou a paisagem livre de desmatamento que governa a produção e consumo de commodities agrícolas em relação às políticas do Reino Unido e do Brasil. Os palestrantes destacaram a importância das ações comerciais do Brasil, sendo o país mais biodiverso do mundo e um grande fornecedor de alimentos.

Painel sobre desmatamento

Com relação à política do Reino Unido, Sarah Clegg, ministra conselheira e vice-cônsul geral no Escritório de Relações Exteriores, da Commonwealth e do Desenvolvimento do Reino Unido, esclareceu que a regulamentação de desmatamento ainda está sendo negociada. Ao contrário da regulamentação da UE para produtos livres de desmatamento, a legislação do Reino Unido será aplicada apenas ao desmatamento ilegal, com o objetivo de apoiar a implementação de regulamentações nacionais nos países produtores.

André Lima, secretário extraordinário para Controle do Desmatamento e Planejamento Ambiental Territorial do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima brasileiro, apontou a dificuldade de saber se o desmatamento é legal ou ilegal, sendo este último a maior parcela do desmatamento na Amazônia que, muitas vezes, é difícil de medir. Isso demonstra a importância da transparência e da rastreabilidade nas cadeias de suprimentos agrícolas para fornecer dados mais qualificados. No entanto, a rastreabilidade exigirá assistência técnica e esforços de capacitação para garantir que os produtores, especialmente os pequenos, possam cumprir a legislação.

Impactos socioeconômicos da produção de soja não são positivos para todos

A pesquisa do TRADE Hub no Brasil focou em duas grandes commodities agrícolas: soja e gado. Os dois são complementares, com cerca de 80% da soja produzida globalmente sendo usada para alimentação animal, como gado. O segundo painel do evento examinou os impactos sociais e ambientais de ambas as produções.

Painel sobre impactos da soja

Louise Nakagawa, pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP), explicou que, embora a produção de soja tenha tido impactos positivos para o crescimento econômico no Brasil, a distribuição desses benefícios varia localmente. Por exemplo, no Noroeste do Rio Grande do Sul, a produção é centrada na agricultura familiar, e esta região tem os melhores indicadores socioeconômicos. No entanto, na região de Matopiba, formada pelo estado do Tocantins e partes dos estados do Maranhão, Piauí e Bahia, a riqueza é concentrada em grandes fazendas, e não distribuída igualmente aos pequenos produtores.

Alberto Barretto, coordenador de Desenvolvimento Rural Sustentável na USP-ESALQ-GPP, exibiu então um vídeo elaborado dentro do projeto TEEBAgriFood, do PNUMA,  destacando maneiras de melhorar a sustentabilidade ambiental das fazendas de gado para equilibrar o aumento do PIB e a segurança alimentar com a gestão do uso da terra. O vídeo delineou o plano de Agricultura de Baixo Carbono (ABC+) do Brasil para restaurar 30 milhões de hectares de pastagens degradadas através da agricultura regenerativa.

Impacto do TRADE Hub na conservação e na restauração

Após o almoço, o público se reagrupou para uma tarde focada nas conquistas do TRADE Hub no Brasil e demais países que fizeram parte do projeto. Bruna Pavani, pesquisadora no Instituto Internacional de Sustentabilidade (IIS), apresentou a plataforma PLANGEA, que identifica áreas prioritárias para ações de conservação e restauração. A plataforma teve uma gama de usos, incluindo envolvimento na legislação nacional sobre a proteção da vegetação.

Impacto do Trade HUB na conservação

Aisha Niazi, oficial de comunicações do Centro de Monitoramento da Conservação Mundial do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP-WCMC), expandiu a visão para o impacto mais amplo de engajamento e divulgação do Hub, incluindo a participação no Fórum Público da Organização Mundial do Comércio e milhares de citações em periódicos. O painel aproveitou a oportunidade para aprofundar em trabalhos específicos, incluindo a ferramenta de política de soja do pesquisador da Universidade de Reading, Marcello De Maria, que avalia oportunidades para os formuladores de políticas reunirem políticas nacionais e internacionais sobre soja sustentável.

Lançamento do novo documentário "Coexistência"

Ébida Santos, consultora de comunicações para o TRADE Hub, e Louise Nakagawa lançaram "Coexistência", um documentário que mostra os desafios enfrentados por pequenos agricultores na produção de frutas e vegetais orgânicos no Cerrado e a busca de produtores de soja por melhores práticas. O documentário mergulha nas barreiras que esses agricultores enfrentam ao tentar vender produtos em mercados locais e internacionais competitivos e explora sua conexão com a terra. O documentarista Thomas Mendel assina a direção do documentário junto com Ébida e Louise.

Soluções completas oferecem suporte a pequenos produtores

A última mesa-redonda do dia focou em desmatamento e comércio. Os palestrantes começaram destacando a importância de entender o impacto da geografia diversa do Brasil em seu contexto político. O painel enfatizou que as respostas políticas devem reconhecer e abordar os desafios localizados nos municípios brasileiros. Richard Smith, diretor executivo do Instituto PCI, destacou o exemplo do Mato Grosso, uma região conhecida por exportar carne, que desenvolveu uma estratégia agroalimentar focada em questões locais.

Painel sobre desmatamento e comércio

Os palestrantes também reconheceram que o diálogo deve se concentrar em soluções, pois as pessoas estão cansadas de respostas ruins. Essas soluções também exigirão apoio financeiro para pequenos produtores, para garantir que sejam alcançáveis e inclusivas para todos.

Ao final do dia, Rafael Loyola, diretor do IIS, refletiu sobre os muitos pesquisadores dedicados e parceiros por trás do sucesso do TRADE Hub no Brasil. Ele chamou a atenção para um tema central do dia: apoio e inclusão para pequenos agricultores. Rafael deixou o público com um pedido para pensar em "como tornar o comércio inclusivo para pequenos agricultores, pois os grandes produtores encontrarão um caminho."

Veja a gravação do evento aqui.

 

Sobre o Trade Hub

O Fundo de Pesquisa e Inovação do Reino Unido, através do Fundo de Desafios Globais, financiou o TRADE Hub, liderado pelo Centro de Monitoramento da Conservação Mundial do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP-WCMC). O TRADE Hub é um projeto de cinco anos, financiado até 2024, e é o primeiro hub de pesquisa do seu tipo - reunindo mais de 50 organizações, de 15 países diferentes, para ajudar a tornar o comércio sustentável para as pessoas e o planeta.

Essas organizações parceiras representam diferentes atores do setor público, setor privado, agricultores, usuários de florestas e comunidades rurais, e sociedade civil. Juntos, eles exploram todas as etapas das diversas cadeias de suprimentos de commodities agrícolas e vida selvagem, revelando ligações prejudiciais e maneiras potenciais de promover mudanças duradouras nos sistemas de comércio.

Sobre o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)

O PNUMA é a principal voz global sobre o meio ambiente. Fornece liderança e incentiva a parceria no cuidado com o meio ambiente, inspirando, informando e permitindo que nações e povos melhorem sua qualidade de vida sem comprometer a das gerações futuras.