A produção agrícola global mais do que triplicou entre 1960 e 2015, uma expansão que ajudou a alimentar um planeta faminto. Mas a expansão de fazendas também levou ao desmatamento de florestas, pastagens e outros espaços naturais, estimulando uma onda de degradação da terra.
Em todo o mundo, mais de 2 bilhões de hectares de terra estão oficialmente degradados – uma área quase do tamanho da Índia e da Federação Russa juntas. Essa decadência causou o colapso dos ecossistemas em todo o mundo e está levando 1 milhão de espécies à extinção.
"O boom agrícola das últimas décadas ajudou a combater a fome e a tirar milhões da pobreza", disse Bruno Pozzi, vice-diretor da Divisão de Ecossistemas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). "Mas os sistemas alimentares também têm sido os maiores responsáveis pela perda de biodiversidade e, a menos que os tornemos mais sustentáveis, corremos o risco de destruir o mundo natural, que é a base de nossas economias e sociedades, bem como da saúde e dos meios de subsistência das pessoas em todos os lugares.”
O Plano de Biodiversidade, um acordo global de 2022 para proteger o mundo natural, foi projetado em parte para tornar os sistemas alimentares mais sustentáveis. Suas 23 metas incluem conservar 30% da terra, mar e águas interiores até 2030.
Enquanto as nações se movimentam para implementar o plano, grupos sem fins lucrativos e agricultores de todo o mundo já estão trabalhando para tornar a agricultura mais amigável ao planeta. Veja a seguir como eles estão fazendo isso.
Captando a água da chuva
À medida que a terra se degrada, a capacidade do solo de reter água é drasticamente reduzida. Isso leva ao desaparecimento da vegetação e desencadeia um ciclo vicioso de seca e erosão. Esse processo, impulsionado em parte pelas mudanças climáticas, está ocorrendo na África Subsaariana, resultando em insegurança alimentar e fome.
O grupo ambientalista JustDiggit desenvolveu uma solução engenhosa para este problema: cavar poças de água. Esses poços semicirculares captam a água da chuva que, de outra forma, seria levada pelo solo estéril, ajudando a reflorestar rapidamente uma grande área.
A JustDiggit diz que até agora cavou 300 mil poços e, juntamente com milhões de agricultores e pastores, restaurou 400 mil hectares de terras anteriormente secas e degradadas. Esse processo está ajudando a aumentar a produtividade agrícola e melhorar as pastagens, ao mesmo tempo em que estimula o retorno da vida selvagem. A JustDiggit é parceira da Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas, um esforço global para revitalizar espaços naturais.
Transformando fazendas em florestas alimentares
Nos últimos 100 anos, muitos agricultores adotaram a monocultura em seus campos, facilitando a colheita com maquinário. Embora isso tenha aumentado os rendimentos, a falta de diversidade representa cada vez mais uma ameaça à biodiversidade e à saúde do solo.
No Quênia, Mali, Senegal, Tanzânia e Uganda, muitos agricultores, com o apoio da organização não governamental Trees for the Future, optaram pela policultura, intercalando-as com árvores. Isso transformou suas terras em algo semelhante a florestas e jardins selvagens, um processo conhecido como agrofloresta.
A Trees for the Future treinou dezenas de milhares de agricultores, muitos vivendo na pobreza em terras degradadas. A organização ajudou a restaurar mais de 41mil hectares de terra desde 2014, melhorando o rendimento das colheitas, revitalizando pastagens e fornecendo habitats para a vida selvagem.
O projeto foi recentemente nomeado como uma Iniciativa de Referência da Restauração Mundial da ONU, um prêmio que reconhece os esforços inovadores para revitalizar a natureza.
“The agricultural boom of the last several decades has helped counter hunger and lift millions out of poverty,” said Bruno Pozzi, Deputy Director of the Ecosystems Division of the United Nations Environment Programme (UNEP). “But food systems have also been the greatest driver of biodiversity loss, and unless we make them more sustainable, we risk destroying the natural world, which is the foundation of our economies and our societies and the health and livelihoods of people everywhere.”
The Biodiversity Plan, a 2022 global agreement to safeguard the natural world, is designed in part to make food systems more sustainable. Its 23 targets include conserving 30 per cent of land, sea and inland waters by 2030.
As nations move to implement the plan, non-profit groups and farmers around the world are already working to make agriculture more planet friendly. Here is a look at how they are doing that.
Grasping rainwater
As land degrades, the soil’s capacity to retain water is drastically reduced. This leads to the disappearance of vegetation, and sets in motion a vicious cycle of drought and erosion. This process, driven in part by climate change, is playing out in Sub-Saharan Africa, resulting in food insecurity and famine.
Environmental group JustDiggit has devised an ingenious solution to this problem: dig water bunds. These semi-circular pits catch rainwater that would otherwise get washed away over barren soil, helping to quickly regreen a large area.
JustDiggit says it has so far dug 300,000 bunds and together with millions of farmers and pastoralists, has restored 400,000 hectares of formerly dry, degraded land. This process is helping to bolster farming yields and improve rangelands, while also spurring the return of wildlife. JustDiggit is a partner of the UN Decade on Ecosystem Restoration, a global effort to revive natural spaces.
Turning farms into food forests
In the last 100 years, many farmers have switched to growing a single crop in their fields, making their produce easier to harvest with machinery. While this has boosted yields, the lack of diversity is increasingly posing a threat to biodiversity and soil health.
In Kenya, Mali, Senegal, Tanzania and Uganda many farmers, with the support of non-governmental organization Trees for the Future, have returned to planting multiple crops, interspersing them with trees. This has turned their lands into something akin to forests and wild gardens, a process known as agroforestry.
Trees for the Future has trained tens of thousands of farmers, many living in poverty on degraded lands. The organization has helped restore more than 41,000 hectares of land since 2014, improving crop yields, reviving rangelands and providing habitats for wildlife.
The push was recently named a UN World Restoration Flagship, an honour that recognizes groundbreaking efforts to revive nature.
O Plano de Biodiversidade e a Agricultura
O Plano de Biodiversidade, um acordo global acordado em 2022, concentra-se em parte em como os países podem tornar os sistemas agrícolas e alimentares mais sustentáveis. O acordo pede que as nações garantam que fazendas, pescas e florestas sejam gerenciadas de forma a proteger a biodiversidade. Também pede que os países eliminem gradualmente os subsídios agrícolas prejudiciais à biodiversidade e reduzam os impactos ambientais da poluição, uma das principais fontes das quais é o escoamento agrícola.
Protegendo e conservando pastagens
Mais da metade da superfície terrestre do mundo é coberta por grama, arbustos ou vegetação esparsa e resistente.
Essas pastagens, ou terras secas, como às vezes são chamadas, geram 44% das safras globais e sustentam mais de 2 bilhões de pessoas.
No entanto, muitas delas estão se degradando rapidamente devido a uma combinação de uso indevido, mudança climática e perda de biodiversidade, segundo um relatório recente da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD).
Em 2021, o PNUMA, em parceria com a Iniciativa de Reflorestamento do Líbano , lançou um projeto piloto no Vale do Beqaa para plantar cachos de carvalhos, figueiras e amendoeiras. A vegetação forneceu alimento para o gado, evitando a erosão e retendo a água, apoiando o retorno da biodiversidade.
Quebrando as barreiras de gênero
Embora as mulheres produzam metade dos alimentos do mundo, elas possuem menos de um quinto de todas as terras e representam 70% dos famintos do mundo. Ajudar as mulheres a ter o mesmo acesso aos recursos produtivos que os homens poderia aumentar a produtividade em suas fazendas em até 30%, o que poderia tirar até 150 milhões de pessoas da fome.
Em Camarões, o PNUMA e o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) se uniram à organização sem fins lucrativos Rainforest Alliance e ao Ministério do Meio Ambiente, Proteção da Natureza e Desenvolvimento Sustentável em dois projetos. Os esforços visam fortalecer os direitos econômicos e sociais das mulheres por meio da promoção da gestão sustentável da terra baseada na comunidade.
Reduzindo a poluição nas fazendas
Quase 4 bilhões de toneladas de agrotóxicos e 12 bilhões de quilos de plásticos agrícolas são usados todos os anos. Embora aumentem a produção de alimentos, esses químicos e produtos são perigosos. Cerca de 11 mil pessoas morrem anualmente devido aos efeitos tóxicos dos pesticidas, e os resíduos químicos podem diminuir a saúde do solo e degradar os ecossistemas, ameaçando a biodiversidade.
O PNUMA está trabalhando com o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês) em um esforço para combater a poluição agrícola em vários países em desenvolvimento. O programa de cinco anos é projetado para evitar a liberação de mais de 51 mil toneladas de pesticidas perigosos e mais de 20 mil toneladas de resíduos plásticos. Isso protegeria mais de 3 milhões de hectares de terra da degradação, à medida que fazendas e agricultores optam por alternativas com baixo teor de produtos químicos e não químicos.
O planeta está passando por um perigoso declínio na natureza. Um milhão de espécies estão ameaçadas de extinção, os solos estão se tornando inférteis e as fontes de água estão secando. O Plano de Biodiversidade, anteriormente conhecido como Quadro Global de Biodiversidade Kunming-Montreal, estabelece metas globais para deter e reverter a perda da natureza até 2030. Foi adotado pelos líderes mundiais em dezembro de 2022. Para enfrentar os fatores determinantes da crise da natureza, o PNUMA está trabalhando com parceiros para agir em paisagens terrestres e marinhas, transformando nossos sistemas alimentares e fechando a lacuna de financiamento para a natureza.
Sobre a Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas
A Assembleia Geral da ONU declarou 2021-2030 uma Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas. Liderado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, juntamente com o apoio de parceiros, ela foi projetada para prevenir, deter e reverter a perda e a degradação dos ecossistemas em todo o mundo. O objetivo é revitalizar bilhões de hectares, abrangendo ecossistemas terrestres e aquáticos. Um apelo global à ação, a Década da ONU reúne apoio político, pesquisa científica e força financeira para ampliar a restauração de forma significativa.